O crescente aumento no consumo de cigarros eletrônicos, especialmente entre os jovens, tem levantado uma série de preocupações entre profissionais de saúde. Para discutir as consequências desse fenômeno, a Associação Médica do Rio Grande do Sul (AMRIGS) trouxe especialistas no assunto que mostraram os reflexos e as medidas necessárias para o enfrentamento desse problema, na primeira edição de 2024 do Ciclo de Palestras AMRIGS. O encontro foi realizado na noite de terça-feira (09/04), de forma híbrida, presencialmente no auditório da entidade e com transmissão ao vivo. O presidente da AMRIGS, Dr. Gerson Junqueira Jr., destacou a importância da conscientização e da luta pela reversão desse cenário.
“É fundamental que a população esteja ciente dos riscos associados a esses dispositivos. Precisamos agir de forma mais assertiva junto ao poder público para combater esse problema de saúde pública”, disse.
A psiquiatra e especialista em Dependência Química e Psicoterapia, Fernanda de Paula Ramos, palestrante do evento, chamou a atenção para os problemas no desenvolvimento cerebral da população juvenil.
“O cérebro dos jovens termina de se formar por volta dos 20 anos e já estamos vendo um contato precoce com esses equipamentos. A região Sul do Brasil é uma das áreas com maior prevalência de uso de cigarro eletrônico no país”, disse.
No Brasil, a taxa de experimentação entre adolescentes de 13 a 17 anos chega a aproximadamente 18%. A pneumologista e presidente da Sociedade de Pneumologia e Tisiologia do RS (SPTRS), Manuela Cavalcanti, acrescentou que a juventude, ao começar a usar cigarro eletrônico, tem um risco três vezes maior de experimentar cigarro convencional e um risco quatro vezes maior de virar um fumante de cigarro tradicional.
“Esses números são preocupantes, especialmente considerando que esse público está iniciando o uso de nicotina através do cigarro eletrônico, sem nunca terem fumado cigarros convencionais”, afirmou.
Já a presidente da Sociedade de Cirurgia Torácica do Rio Grande do Sul, Dra. Fabíola Perin, alertou que transtornos de ansiedade, depressão e outros distúrbios psicológicos graves foram identificados com maior frequência entre os usuários da droga.
“Os jovens que fazem uso de cigarros eletrônicos têm o dobro de probabilidade de desenvolver transtorno de ansiedade, sendo a depressão um precursor, aumentando em cinco vezes as chances de consumirem maconha e álcool”, completa.
Tratamento
O tratamento ainda carece de protocolos bem estabelecidos. Porém, abordagens semelhantes às utilizadas para o tabagismo, como psicoterapia e terapia de reposição de nicotina, têm sido aplicadas com resultados expressivos.
Em sua palestra, Dra. Fabíola apresentou um caso clínico impactante: um jovem de 23 anos que usou vape por três anos na tentativa de parar de fumar. No início de janeiro deste ano, o paciente apresentou sintomas de tosse, febre e falta de ar.
“Esse rapaz poderia ter falecido. Ele ficou 33 dias em internação hospitalar, precisou de fisioterapia respiratória e motora, e de acompanhamento pneumológico, porque ainda tem algum grau de falta de ar mesmo após três meses da internação”, relatou.
Foram registrados 1.080 casos de lesões pulmonares agudas causadas por cigarro eletrônico, conhecidas como EVALI (síndrome respiratória aguda causada pelo uso de cigarro eletrônico), nos Estados Unidos, até outubro de 2019. Entre este período e fevereiro de 2020, esse número já havia subido para 2.800 casos, com 68 mortes.
Por fim, as especialistas alertaram que a indústria do tabaco tem promovido a ideia de que o cigarro eletrônico é inofensivo, o que não corresponde à realidade observada pelos profissionais de saúde e até mesmo pela população em geral. Destacaram, ainda, a necessidade urgente de informação e prevenção, que deve ser abordada tanto nas escolas quanto em casa, com os pais adquirindo conhecimento para dialogar com seus filhos sobre o assunto e ficarem atentos ao que está ocorrendo.