Com a participação de mais de trezentas pessoas, especialistas traçaram um panorama atual da saúde no que diz respeito ao Transtorno do Espectro Autista (TEA) durante o Seminário Autismo em Pauta: diagnóstico, tratamento e inclusão. Realizada no Teatro da Associação Médica do Rio Grande do Sul (AMRIGS) na tarde desta terça-feira, 23 de abril, a atividade proporcionou uma oportunidade para aprofundar o entendimento sobre as complexidades desse transtorno.
“É o segundo ano consecutivo que realizamos esta série de seminários sobre saúde mental e, desta vez, abordando um tema tão relevante como o autismo. É fundamental que discutamos o assunto de maneira ampla e inclusiva, buscando entender suas nuances e desafios”, destacou o presidente da AMRIGS, Dr. Gerson Junqueira Jr.
Solenidade de Abertura
A vereadora Tanise Sabino, presidente da Frente Parlamentar de Promoção à Saúde Mental e representante da presidência da Câmara de Vereadores de Porto Alegre, apresentou o mês Abril Azul de conscientização sobre o espectro autista.
“É um mês dedicado para ações de conscientização, como palestras, seminários, caminhadas. Enfim, é o mês inteiro para promover a compreensão e a aceitação das pessoas com essa condição, mas eu sempre afirmo que não é só no mês de abril. Na verdade, são todos os dias, todos os meses, todos os anos que precisamos levar essa causa com muito carinho e muito respeito’’, relatou.
Fernando Ritter, secretário Municipal de Saúde de Porto Alegre, enalteceu a importância do encontro para introduzir os aprendizados, na prática.
“Estamos com servidores da Secretaria Municipal de Saúde aqui, para nos ajudar a captar o maior número de informações e conseguir desenvolver políticas públicas voltadas para essa área, para as famílias e para toda Porto Alegre’’, destacou.
A iniciativa do evento foi da Associação Médica do Rio Grande do Sul (AMRIGS) e Frente Parlamentar da Promoção da Saúde Mental, em conjunto com a Câmara Municipal de Porto Alegre. O evento contou ainda com o apoio de importantes entidades da área da saúde, como a Sociedade de Neurologia e Neurocirurgia do Rio Grande do Sul (SNNRS), a Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul (SPRS) e a Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul (APRS).
Palestras mostram importância do diagnóstico precoce e inovações que aprimoram o tratamento
A primeira apresentação foi trazida pela psicóloga e especialista em Psicoterapia Psicanalítica, Renata Viola Vives, que discorreu sobre estratégias precoces de detecção de risco.
“O tratamento frequentemente recorre ao videofeedback para mostrar aos pais e cuidadores momentos importantes que funcionam com o bebê, o que permite aos adultos se ajustarem melhor a ele”, alertou.
O médico psiquiatra e diretor do Centro de Referência do Transtorno Autista (CERTA), Alceu Gomes, destacou desafios encontrados no trabalho.
“Lidamos com uma criança que está inserida em um contexto. Então é preciso sempre considerar o ambiente no qual ela vive. Atendemos crianças de 0 a 12 anos com uma vulnerabilidade social muito grave. Então, não é só a criança com TEA. São casos de crianças que sofreram negligência, maus tratos, abuso ou algum tipo de inibição social. Então isso traz outro agravante para os nossos usuários”, descreveu.
Na sequência, o público acompanhou o relato emocionante do servidor público, Nilson Ventura.
“Todos nós sentimos e precisamos de afeto. O que acontece é que muitas vezes falhamos em demonstrar. Nossa intensidade é diferente e o apego a rotinas e objetos são muito importantes para nós. Isso tudo só tem se tornado mais fácil porque tive suporte”, disse.
Na sequência, o médico Josemar Marchezan, neuropediatra, lembrou que cada indivíduo possui uma rede diferente do outro, justificando, então, a complexidade do TEA e a diferença do fenótipo e da apresentação do autismo entre as pessoas.
“Por isso nós temos distintas formas de apresentação e a grande variabilidade dentro do que a gente chama de Transtorno do Espectro Autista”, afirmou.
Comorbidades
Dra. Ana Tietzmann, psiquiatra e presidente da Associação de Psiquiatria do RS, abordou o tema de Comorbidades no TEA. As estatísticas reforçam essa preocupação. Pesquisas indicam que 70% dos indivíduos com TEA apresentam ao menos uma comorbidade e aproximadamente 50% dos indivíduos com TEA apresentam duas ou mais condições desse tipo.
“Há uma série de problemas que podem estar acontecendo juntos. Essas comorbidades muitas vezes chegam como causa ou em outros cenários como consequência do TEA”, disse.
A última atração foi com Ana Carolina Rodrigues que conduziu uma reflexão emocionante com “O Diário Azul: Uma jornada através do Autismo”, projeto cujo objetivo é trazer luz ao tema do autismo, informar melhor a sociedade, diminuir preconceitos, aumentar a empatia e políticas públicas voltadas para a causa.