Estudo revela como a certificação pode transformar a cultura organizacional e fortalecer a segurança do paciente em instituições brasileiras
Um grupo de pesquisadores brasileiros vinculados à Logos University, instituição com sede na França, publicou um artigo científico que pode se tornar referência no debate sobre a qualidade dos serviços hospitalares no Brasil. Intitulado “Acreditação Hospitalar e Gestão da Qualidade: Uma Análise dos Impactos nos Serviços de Saúde”, o estudo foi publicado na Revista Brasileira de Ciências Sociais Aplicadas em agosto de 2025 e já está disponível online.
O trabalho é assinado por Valdirene Ramos da Silva, doutoranda em Gestão Empresarial, Fabrício Souza Ribeiro, doutorando em Administração de Empresas (DBA), sob orientação do advogado Marco Túlio Elias Alves, doutor em Direito. O trio aponta que a acreditação hospitalar vai muito além de um selo de qualidade: ela tem o potencial de mudar profundamente a estrutura, os processos e a cultura das instituições de saúde.
A pesquisa foi baseada em revisão bibliográfica de caráter qualitativo e destaca como a acreditação — especialmente o modelo da Organização Nacional de Acreditação (ONA) — contribui para padronização dos serviços, fortalecimento da cultura de segurança e eficiência gerencial. Entre os principais achados, estão a redução de eventos adversos, maior adesão a protocolos clínicos e melhoria dos indicadores de qualidade.
“Nosso estudo evidencia que a acreditação precisa ser entendida como um processo contínuo, não como um objetivo a ser alcançado”, explica Valdirene Ramos da Silva. Ela destaca ainda que a certificação se aproxima do método científico por exigir diagnóstico, ação e reavaliação sistemática dos resultados — um ciclo que promove aprendizado organizacional e inovação constante.
Apesar dos benefícios apontados, os autores alertam para os desafios estruturais enfrentados por hospitais, principalmente os públicos ou de pequeno porte, como falta de recursos, resistência à mudança e baixa maturidade gerencial. “Acreditações modulares ou gradativas podem ser alternativas eficazes para ampliar o acesso ao processo”, sugere Fabrício Ribeiro.
Segundo o orientador, a principal contribuição do artigo é oferecer um panorama integrado sobre a acreditação como mecanismo de sustentação da qualidade. “Ao reunir evidências recentes e experiências práticas, conseguimos propor caminhos realistas para superar as barreiras e ampliar o impacto positivo da certificação nos serviços de saúde”, afirma.
O artigo foi publicado na Revista Brasileira de Ciências Sociais Aplicadas e já vem sendo considerado por especialistas da área como uma importante contribuição para gestores, formuladores de políticas públicas e profissionais da saúde que atuam na linha de frente da assistência hospitalar.
A importância da acreditação para o futuro dos hospitais brasileiros
Com a saúde pública enfrentando desafios cada vez mais complexos, a busca por modelos de gestão baseados em evidências e centrados na segurança do paciente se tornou urgente. Nesse cenário, a acreditação hospitalar desponta como uma ferramenta estratégica não somente para qualificar serviços, mas também para garantir sua sustentabilidade a longo prazo.
No Brasil, a metodologia da Organização Nacional de Acreditação (ONA) se consolidou como o principal modelo adotado. Ela estabelece critérios claros e escalonados, que permitem que instituições evoluam em maturidade organizacional ao longo do tempo. Isso inclui desde a implementação de protocolos clínicos até a consolidação de uma cultura de melhoria contínua.
A adoção desse modelo impacta diretamente na reputação das instituições, aumentando a confiança da população e dos profissionais de saúde. Além disso, a gestão baseada em indicadores fortalece a governança clínica e facilita a tomada de decisões mais assertivas. Ou seja, a acreditação também dialoga com a gestão estratégica e com o equilíbrio financeiro das organizações.
No entanto, a padronização traz consigo desafios. A pressão por resultados imediatos, os custos operacionais e a necessidade de capacitação contínua podem se tornar obstáculos para hospitais que operam com recursos limitados. Por isso, especialistas defendem políticas públicas mais inclusivas, que viabilizem a participação de unidades menores no processo de certificação.
A expectativa é que o tema ganhe mais relevância na agenda do Ministério da Saúde nos próximos anos, especialmente diante da necessidade de qualificar a rede hospitalar para responder a novas emergências sanitárias. A pandemia da COVID-19 foi uma lição clara: instituições com gestão da qualidade estruturada foram mais resilientes e eficientes diante da crise.
Assim, investir em acreditação não é uma escolha técnica — é um compromisso ético com a vida. Ao transformar a cultura organizacional e alinhar equipes em torno da excelência assistencial, a certificação se torna um caminho possível (e necessário) para um sistema de saúde mais justo, seguro e eficiente.
Sobre a pesquisa:
Título: ACREDITAÇÃO HOSPITALAR E GESTÃO DA QUALIDADE: UMA ANÁLISE DOS IMPACTOS NOS SERVIÇOS DE SAÚDE
Autores: Valdirene Ramos da Silva e Fabrício Souza Ribeiro
Revista: Revista Brasileira de Ciências Sociais Aplicadas. Aceite: 14/08/2025
DOI https://doi.org/10.22533/at.ed.8151122511083
Marco Alves Sociedade de Advocacia | Fotos: Divulgação
