Com estimativa de 73 mil novos casos de câncer de mama em 2025, especialista alerta que o apoio das empresas deve ir além das campanhas e incluir políticas permanentes de cuidado e acolhimento Imagem: Freepik
O Brasil deve registrar 73.610 novos casos de câncer de mama até o final de 2025, segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA) e do Ministério da Saúde divulgados recentemente. Em 2023, foram mais de 20 mil óbitos pela doença, com maior concentração nas regiões sul, sudeste e nordeste. Enquanto empresas de diversos setores abraçam o Outubro Rosa com campanhas visuais e ações pontuais, um aspecto essencial permanece negligenciado: o impacto profundo na saúde mental das mulheres afetadas pelo câncer de mama e de seus familiares.
“O Outubro Rosa se tornou, em muitos casos, uma oportunidade de marketing superficial. As empresas iluminam prédios de rosa, distribuem lacinhos e promovem palestras de um dia, mas quando a funcionária recebe o diagnóstico ou precisa acompanhar uma mãe em tratamento, ela se vê sozinha diante de uma estrutura corporativa que não está preparada para acolhê-la de fato“, analisa a psicanalista, presidente do Instituto de Pesquisa de Estudos do Feminino (Ipefem), Ana Tomazelli.
Dados científicos revelam a dimensão do problema: estudos indicam que 33% das pacientes com câncer de mama desenvolvem depressão, conforme o Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais (DSM-V).
Um estudo publicado na Revista de Saúde, por exemplo, aponta que entre 25% e 35% das mulheres com câncer de mama podem desenvolver ansiedade e/ou depressão durante o tratamento. Especificamente, a prevalência de ansiedade foi estimada em torno de 24,74% e a de depressão em cerca de 26,8%, segundo a escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão (HADS).
53% das mulheres estão com níveis de estresse mais altos
O impacto psicológico do diagnóstico de câncer de mama não se restringe às pacientes. Profissionais que acompanham familiares próximos em tratamento oncológico enfrentam estresse crônico, ansiedade e sintomas depressivos que afetam diretamente seu desempenho e bem-estar no trabalho. Uma pesquisa realizada pela Deloitte, com cinco mil mulheres em 10 países, incluindo o Brasil, revelou que 53% delas estavam com níveis de estresse mais altos, e 46% apresentavam esgotamento em relação ao trabalho.
“Quando falamos em saúde mental no contexto do câncer de mama, precisamos olhar para o ecossistema completo. A mulher que está em tratamento não é apenas uma paciente — ela é mãe, filha, profissional, amiga. E seus círculos de convivência são igualmente impactados. Quando uma empresa ignora essa realidade, perde talentos, enfrenta maior absenteísmo e cria ambientes tóxicos onde o sofrimento silencioso se normaliza“, destaca Ana.
Um estudo divulgado pelo National Center for Biotechnology Information (NCBI) e publicado no Journal of the National Cancer Institute mostra que quase 50% das mulheres com câncer de mama precoce apresentaram depressão, ansiedade ou ambas no ano após o diagnóstico, e esses sintomas persistem em 25% dos casos nos anos seguintes, reforçando a importância do acompanhamento psicológico continuado.
Em 2024, o governo brasileiro criou a Lei 14.831, que institui o Certificado Empresa Promotora da Saúde Mental, estabelecendo requisitos para que organizações sejam reconhecidas por adotarem critérios de promoção da saúde mental e bem-estar de seus colaboradores, uma iniciativa que pode ser potencializada quando direcionada especificamente ao suporte oncológico.
Ações concretas para um apoio genuíno ao longo do ano
Para que o Outubro Rosa transcenda o marketing e se transforme em compromisso real, Ana Tomazelli aponta ações estruturantes que empresas podem implementar durante todo o ano:
“É fundamental que as empresas compreendam que o suporte não pode ser sazonal. Uma profissional que enfrenta o câncer de mama em março precisa do mesmo acolhimento que teria em outubro. E mais: o cuidado não termina com o fim da quimioterapia. O processo de reconstrução emocional é longo e demanda uma rede de apoio consistente. Quando as organizações investem nisso, elas não estão apenas fazendo o certo, estão construindo ambientes mais humanos, produtivos e sustentáveis“, completa Tomazelli.
O diagnóstico precoce salva-vidas, mas o suporte emocional sustenta a jornada
Estudos demonstram que, nos estágios iniciais do câncer de mama, a sobrevida em cinco anos varia entre 93% e 100%, enquanto em estágios mais avançados essas taxas não ultrapassam 70% a 72%. O diagnóstico precoce é, portanto, essencial, e as empresas têm papel fundamental ao facilitar o acesso a exames preventivos e ao criar culturas onde a saúde feminina seja prioridade genuína.
Em 2024, foram realizadas aproximadamente 4.307.786 mamografias pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em todo o Brasil, segundo número divulgado pelo Ministério da Saúde. Deste total, cerca de 4 milhões foram para rastreamento e cerca de 376,7 mil para exames diagnósticos. Além disso, mamografias em pacientes com menos de 50 anos representaram cerca de 30% do total, o que corresponde a mais de 1 milhão de exames realizados nessa faixa etária de acordo com a Secretaria de Comunicação Social.
Apesar dos números expressivos, ainda há barreiras de acesso que as empresas privadas podem ajudar a superar por meio de convênios facilitados, campanhas educativas durante todo o ano e políticas de incentivo à prevenção.
“O Outubro Rosa pode e deve ser um momento de visibilidade, mas não pode ser a única resposta corporativa ao câncer de mama. Precisamos de políticas perenes, de lideranças capacitadas para lidar com o tema com sensibilidade e de estruturas que apoiem não apenas o corpo, mas a mente e o espírito dessas mulheres. Ao fazer isso, uma empresa está dizendo: ‘Você importa para nós não apenas como profissional, mas como ser humano’. E essa mensagem salva-vidas”, finaliza Ana Tomazelli.
IPEFEM
Fundado em 2019, o Instituto de Pesquisa de Estudos do Feminino – IPEFEM, atua em três pilares, que podem acontecer coordenadamente ou individualmente: pesquisa, educação e terapia. Em Pesquisas, considera-se todas as modalidades técnicas de pesquisa que considerem recortes por gênero, orientação sexual e saúde mental. Em Educação, o instituto tem a Comunidade Ipê, uma plataforma de educação à distância, baseada em Lifelong Learning, dedicada a aulas expositivas e micro conteúdos de impacto. Em Terapia, o instituto já atendeu milhares de pessoas, oferecendo apoio terapêutico individual ou em grupo, podendo ser atendimentos gratuitos ou com valores simbólicos acessíveis.
Ana Tomazelli, psicanalista e Presidente do Ipefem (Instituto de Pesquisas & Estudos do Feminino), uma ONG de educação em saúde mental para mulheres no mercado de trabalho. Também é co-fundadora do Ipecre – Instituto de pesquisa e estudos em Ciência da Religião, uma ONG que promove conhecimento para a garantia das liberdades religiosas e promoção da paz mundial. Mentora de Carreiras, Executiva em Recursos Humanos, por mais de 20 anos, liderou reestruturações de RH dentro e fora do país. Com passagens pelas startups Scooto e B2Mamy, além de empresas tradicionais e consolidadas como UHG-Amil, Solera Holdings, KPMG e DASA (Diagnósticos da América S/A). Mestranda em Ciências da Religião pela PUC-SP e membro do grupo de pesquisa RELAPSO (Religião, Laço Social e Psicanálise) da Universidade de São Paulo, também é pós-graduada em Recursos Humanos pela FIA-USP e em Negócios pelo IBMEC-RJ. Formada em Jornalismo pela Laureate – Anhembi Morumbi.
NÃO ESQUEÇA DE DEIXAR SEU COMENTÁRIO
MAIS DA SOL FM
Copyright © 2019 Radio Sol 107,3 FM - Rolante - RS - Brasil - www.sol.fm.br