Iniciativa busca integrar migrantes ao setor industrial gaúcho por meio de qualificação e empregabilidade
O venezuelano Carlos Alberto Perez desembarcou em Erechim, no norte do Rio Grande do Sul, com a esperança de reconstruir a vida. Após passar por Boa Vista (RR) por meios próprios, foi acolhido pela Organização Internacional para as Migrações (OIM), que o conduziu até o município gaúcho, onde hoje atua como soldador júnior na fabricante de ônibus Comil. Sua história se entrelaça com o programa Indústria Acolhedora, que busca acolher, qualificar e inserir migrantes e refugiados no mercado de trabalho do Estado.
Criado para enfrentar a escassez de profissionais e estimular o desenvolvimento industrial, o projeto promove a inclusão social e ajuda a construir trajetórias profissionais. Isso fortalece a competitividade do setor e contribui para a retenção de talentos, uma das metas da atual gestão de Claudio Bier à frente do Sistema FIERGS.
Lançado oficialmente em junho, o programa surgiu a partir da assinatura de um memorando com a Organização Internacional para as Migrações (OIM), agência da ONU, durante evento realizado na sede da FIERGS, em Porto Alegre. A parceria prevê o acompanhamento dos migrantes desde a chegada ao Brasil, atendendo suas necessidades básicas, promovendo a integração social, formação e trabalho.
Por meio da OIM, é feita a regularização migratória, o acesso a serviços básicos, entre outros processos burocráticos. O Serviço Social da Indústria (Sesi) disponibiliza os atendimentos de saúde, atividades de lazer e qualificação para os trabalhadores e suas famílias. Já o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) é responsável pela qualificação profissional, aliado ao Instituto Euvaldo Lodi (IEL), que cuida do cadastro dos candidatos em plataforma de empregabilidade, facilitando a inserção no mercado de trabalho.
Pioneira no programa, a fabricante de ônibus Comil iniciou em maio as atividades do Indústria Acolhedora no município de Erechim. Com um grupo de 31 migrantes venezuelanos, a parceria marca o início da implementação do projeto no setor industrial gaúcho.
A experiência de Carlos é um exemplo concreto dos primeiros resultados do Indústria Acolhedora. Hospedagem, alimentação e uma vaga formal de emprego foram os passos iniciais em sua nova trajetória no Brasil. Ele também já participou dos cursos de Leitura e Interpretação de Desenho e Metrologia oferecidos pelo Senai, realizados em espanhol e adaptados para facilitar o aprendizado técnico de migrantes como ele.
Enquanto se adapta à nova rotina e à cultura local, Carlos sonha em reunir a família no Brasil. Planeja trazer a filha para viver com ele em Erechim. “Esse emprego representa uma chance de começar do zero”, resume.
Projeto piloto
Como parte da qualificação profissional, o grupo Comil participou recentemente dos cursos de Leitura e Interpretação de Desenho e Metrologia, ministrados pelo instrutor do Senai, Ruben Eduardo Panta Romero. Para ele, a iniciativa vai além de suprir a demanda da indústria local, ao contribuir também para o desenvolvimento humano e educacional. “Reconhecendo as complexidades da migração e da transição cultural, essa oferta educacional se destaca como uma valiosa oportunidade de qualificação”, destacou.
A qualificação foi realizada na modalidade EaD, em espanhol, com encontros síncronos mensais. “As aulas foram totalmente ministradas em espanhol, com material de apoio traduzido e o ambiente virtual também adaptado para o idioma”, explica o instrutor. O curso tem validade nacional e vai além do reconhecimento pela empresa. “Trata-se de uma formação com caráter técnico e informativo, cujo certificado é válido em todo o território brasileiro, uma prática que poderia servir de exemplo a outros países desenvolvidos”, afirma.
Além da capacitação técnica, os migrantes já contam com o suporte do Sesi Acolhe, que oferece atendimentos psicossociais, como consultas médicas, apoio às famílias e ações de integração na comunidade local.
PRÓXIMAS AÇÕES
Para os próximos anos, o programa pretende ampliar significativamente o alcance do Indústria Acolhedora. Até 2027, a expectativa é impactar cerca de 2.400 migrantes, com ao menos 700 cadastros na plataforma OI – Oportunidades na Indústria, que conecta candidatos às vagas disponíveis no setor. Após o projeto-piloto em Erechim, novas etapas estão previstas para os municípios de Caxias do Sul, Passo Fundo e Vale do Taquari, consolidando a iniciativa como uma política efetiva de inclusão e desenvolvimento regional.
NÃO ESQUEÇA DE DEIXAR SEU COMENTÁRIO
MAIS DA SOL FM
Copyright © 2019 Radio Sol 107,3 FM - Rolante - RS - Brasil - www.sol.fm.br