Uso excessivo das redes sociais já provoca adoecimentos mentais e perdas financeiras graves, alertam especialistas em seminário da AMRIGS

Debate promovido nesta terça-feira (10/06) reuniu profissionais de Medicina, Psicologia e Saúde do Trabalho, que chamaram atenção para dependência digital, transtornos de humor, esgotamento profissional e até venda de bens por conta de jogos online

As redes sociais, cada vez mais presentes na rotina da população, estão impactando a saúde mental dos adultos, em alguns casos de forma positiva, mas em outros com consequências que vão muito além do tempo de tela. Esse foi o alerta de especialistas reunidos no seminário “O Impacto das Redes Sociais na Saúde Mental na Vida Adulta”, realizado na tarde desta terça-feira, 10 de junho, na sede da Associação Médica do Rio Grande do Sul (AMRIGS), em Porto Alegre.

De acordo com a Pesquisa Digital 2023, realizada pela We Are Social em parceria com a Hootsuite e apresentada no evento, os brasileiros passam, em média, mais de cinco horas por dia conectados às redes sociais. Mais preocupante ainda, segundo dados do IBGE e da Fundação Getúlio Vargas, é que 58% de profissionais admitem verificar notificações mesmo durante reuniões de trabalho, e 86% usam o celular para atividades laborais fora do expediente. O resultado é exaustão, ansiedade, comparação constante e o agravamento de transtornos mentais.

O presidente da AMRIGS, Dr. Gerson Junqueira Jr., reforçou a importância de levar esse debate à sociedade.
“A tecnologia atravessa todas as áreas da nossa vida. Por isso precisamos aprender a lidar com ela de forma consciente”, avaliou.

O tema da dependência digital foi abordado inicialmente em evento realizado no mês de maio, com foco em crianças e adolescentes Agora, foi a vez de tratar do assunto sob o olhar do adulto, segundo lembrou a psicóloga e vereadora Tanise Sabino.

“Vivemos em um tempo de conexões infinitas, mas de relações frágeis. O uso das redes começa na infância, mas nos acompanha e nos afeta ao longo de toda a vida. Estamos sobrecarregados e muitas vezes adoecendo em silêncio”, relatou.

No primeiro painel, a psicóloga Carolina Lisboa falou sobre “O algoritmo da felicidade” e as repercussões na autoestima. Ela apontou que o uso excessivo das plataformas pode ser um gatilho para dependências, isolamento e conflitos familiares.

A tecnologia pode ser aliada ou fator de risco. Quando se torna um refúgio ou obsessão, os danos são profundos. Temos observado um aumento significativo de problemas emocionais associados ao uso desregulado das redes”, disse.

No painel seguinte, o médico do trabalho Fabio Dantas abordou os efeitos da hiperconectividade no ambiente corporativo, em especial o que chamou de “exaustão digital”.

“A comparação constante adoece. Há uma pressão por disponibilidade permanente, uma diluição dos limites entre vida pessoal e profissional, que gera cansaço, ansiedade e burnout. Precisamos refletir sobre os impactos disso no bem-estar dos trabalhadores”, afirmou.

Já Dra. Carla Hervé Moram Bicca, psiquiatra e vice-presidente da Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul (APRS), alertou para o crescimento de transtornos de humor, como depressão e ansiedade, relacionados ao uso das redes — especialmente entre idosos e pessoas em vulnerabilidade social.

“Em 2024, 86,5% dos idosos acessam a internet todos os dias. É um número expressivo, mas precisamos olhar com atenção para esse público. Além disso, há uma explosão de casos envolvendo jogos online, inclusive com relatos de pessoas que venderam o patrimônio da família por prejuízos com apostas. As classes D e E são as mais impactadas e o risco de suicídio aumenta”, alertou.

Encerrando a programação, a psicóloga Ilana Fermann conduziu a palestra “Detox digital: quando e como desconectar das redes?”, oferecendo orientações práticas para equilibrar o uso da tecnologia. Ela destacou que o uso excessivo de dispositivos pode influenciar diretamente em nosso bem-estar mental e emocional.

“Mais do que economizar tempo, precisamos refletir sobre a qualidade da vida que levamos. Muitas vezes, acreditamos estar ganhando tempo, mas na verdade estamos abrindo mão da nossa capacidade de pensar com profundidade. Quero plantar essa semente para refletirmos sobre o verdadeiro significado de equilíbrio. Quando falamos nisso, estamos pressupondo que, em algum momento, houve uma intoxicação”, declarou Ilana.

O evento foi promovido pela Associação Médica do Rio Grande do Sul em parceria com a Frente Parlamentar de Promoção da Saúde Mental da Câmara Municipal de Porto Alegre, presidida pela vereadora Tanise, com apoio da Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul (APRS) e da Sociedade Gaúcha de Medicina do Trabalho (SOGAMT).

Sobre a AMRIGS

A Associação Médica do Rio Grande do Sul é uma organização sem fins lucrativos voltada para a atualização do conhecimento técnico-científico e para a realização de debates científico-culturais relacionados à saúde, à Medicina e à vida profissional. Desde o momento de sua fundação em 1951, a AMRIGS integra a vida do médico em todas as etapas da profissão, tendo como objetivos:

  • Fomentar a ciência e a cultura médica;
  • Promover a defesa profissional;
  • Fortalecer o associativismo e a representatividade médica;
  • Ser influenciadora como entidade protagonista de ações em prol da saúde.

PlayPress | AMRIGS – Associação Médica do Rio Grande do Sul | Redação e fotos: Marcelo Matusiak

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