Evento da Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul reúne especialistas para debater, entre outros temas, o desafio da queda na cobertura vacinal e apresentar inovações na imunização infantil
Um dos temas mais relevantes e urgentes da saúde pública será destaque no primeiro dia do XVII Congresso Gaúcho de Atualização em Pediatria, promovido pela Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul (SPRS). A abertura do evento, que ocorre de 15 a 17 de maio, no Centro de Convenções Barra Shopping Sul, em Porto Alegre (RS), contará com o painel Hesitação Vacinal e Novas Vacinas, agendado para o dia 15/05, às 8h30min.
Diante do aumento da desinformação e da insegurança por parte de pais e responsáveis, intensifica-se a preocupação da comunidade médica com o fenômeno da hesitação vacinal. O painel tem como objetivo analisar os fatores que motivam esse comportamento e propor estratégias para restaurar a confiança da população nos programas de imunização.
A sessão será coordenada pela pediatra Denise Leite Chaves (RS), e a apresentação estará a cargo do pediatra Juarez Cunha (RS), uma das principais autoridades nacionais em vacinação.
“Esse é um termo que já vem sendo utilizado há pelo menos dez anos, coincidentemente o mesmo período em que se observou a queda nas coberturas vacinais. Ao analisar essa redução, chega-se ao conceito de “hesitação vacinal”, que é quando a vacina está disponível, recomendada, gratuita, mas, ainda assim, não é aplicada ou é administrada com atraso. No Brasil, essa queda nas coberturas começou a ser notada a partir de 2016, com uma piora significativa durante a pandemia, o que era esperado, já que, durante esse período, foi orientado que as pessoas evitassem circular. A partir de 2021, com o início da aplicação das vacinas contra a Covid-19, imaginava-se que as coberturas vacinais seriam recuperadas, mas isso não ocorreu”, afirmou.
Segundo o especialista a hesitação vacinal é um fenômeno multifatorial, e podem ser destacados três principais determinantes iniciais, conhecidos como os “3 C’s”: confiança, conveniência e complacência. A confiança refere-se na confiança da população nos profissionais de saúde, nos governantes e nas instituições; a conveniência diz respeito ao acesso à vacinação, com horários mais amplos e profissionais capacitados para esclarecer dúvidas; e a complacência é a falsa sensação de segurança que as pessoas desenvolvem quando a doença parece não estar mais presente.
Com a pandemia da Covid-19, dois novos “C’s” foram adicionados ao conceito: contexto e comunicação. O contexto tem relação com a vulnerabilidade e se refere especialmente às populações mais suscetíveis, que têm uma cobertura vacinal mais baixa, enquanto a comunicação diz respeito à qualidade e à clareza das informações disponíveis para o público. Esses são os principais determinantes que influenciam a hesitação vacinal.
“Sabemos que grande parte disso, especialmente a questão da confiança, foi profundamente abalada durante a pandemia da Covid-19, o que acabou afetando também a adesão a outras vacinas”, destaca o médico.
A programação do Congresso contempla ainda uma série de atualizações científicas, com pautas que abrangem desde saúde mental infantil até cuidados neonatais e condutas em emergências pediátrica. A expectativa é reunir centenas de profissionais da medicina, incentivando a troca de saberes e o fortalecimento de práticas baseadas em evidências.
Estatísticas atuais
Estudos indicam que cerca de 30% da população apresenta hesitação vacinal, ou seja, tem acesso à vacina, mas opta por não a aplicar em si ou em seus filhos. Em contrapartida, aproximadamente 60 a 70% confiam e aderem aos programas de vacinação, enquanto cerca de 5% rejeitam totalmente as vacinas. O grupo hesitante, que tem dúvidas sobre possíveis efeitos adversos, representa um desafio importante, pois, embora os eventos graves sejam extremamente raros, a desinformação, especialmente sobre vacinas como a de HPV e Covid-19, tem impactado as coberturas vacinais. Um exemplo recente disso é a baixa adesão à vacina contra a dengue, apesar do aumento significativo dos casos.
“Atualmente, não conseguimos superar os 50% a 55% de cobertura vacinal contra a gripe em gestantes, crianças, idosos e profissionais de saúde. Existem diversos fatores e determinantes que têm dificultado a melhoria dessas coberturas. No entanto, em 2023 e 2024, observamos um aumento significativo nas taxas de vacinação, embora ainda seja difícil alcançar as metas de 90% a 95%. Um exemplo disso é a luta contra o sarampo, que voltou a ser uma ameaça mundial. Precisamos continuar com ações de vigilância em saúde para evitar a disseminação dessa e de outras doenças. E, para isso, é fundamental o planejamento local, considerando as especificidades de cada região, conforme as orientações da Organização Mundial da Saúde”, finalizou Juarez.
Mais informações sobre o Congresso e a programação completa estão disponíveis no site oficial: www.gauchopediatria.com.br.
Sobre a Sociedade de Pediatria do RS
A Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul foi fundada em 25 de junho de 1936 com o nome de Sociedade de Pediatria e Puericultura do Rio Grande do Sul pelo Prof. Raul Moreira e um grupo de médicos precursores da formação pediátrica no Estado. A entidade cresceu e se desenvolveu com o espírito de seus idealizadores, que, preocupados com os avanços da área médica e da própria especialidade, uniram esforços na construção de uma entidade que congregasse os colegas que a cada ano se multiplicavam no atendimento específico da população infantil. Atualmente conta com cerca de 1.750 sócios, e se constitui em orgulho para a classe médica brasileira e, em especial, para a família pediátrica.
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