“A toxicologia é essencial na identificação de substâncias, quantidades e efeitos no organismo”
O caso do envenenamento de uma família após o consumo de um bolo na cidade de Torres, no Rio Grande do Sul, no dia 23 de dezembro, continua a mobilizar a atenção das autoridades e da opinião pública. Três pessoas faleceram e outras duas precisaram de atendimento hospitalar após apresentarem sintomas graves. Investigações preliminares indicam a presença de arsênico em amostras biológicas das vítimas, mas os dados ainda não foram oficialmente confirmados, segundo o governo estadual.
A especialista em medicina legal e perícia médica, Caroline Daitx, explica que o arsênico é um elemento químico naturalmente encontrado no solo, rochas e sedimentos, além de ser componente de pesticidas e produtos industriais. “A intoxicação aguda pode causar sérios sintomas, como vômitos, diarreia, dor abdominal, fraqueza muscular e, em casos extremos, óbito. Já a intoxicação crônica ocorre principalmente em trabalhadores expostos e pode levar a alterações cutâneas, distúrbios neurológicos e aumento do risco de certas neoplasias”, afirma.
O fato em questão traz à tona a importância da perícia médica e criminalística para determinar as causas de intoxicações. Segundo Daitx, a toxicologia desempenha papel essencial na identificação de substâncias, quantidades e efeitos no organismo. “No caso do arsênico, a análise de pelos é um elemento-chave, pois esse elemento tende a se acumular nos tecidos e pode ser detectado durante exames necroscópicos”, destaca. Ela também menciona que a presença de odor de “amêndoas amargas” em cadáveres é um indicativo clássico de contaminação por arsênico.
A intoxicação alimentar por toxinas bacterianas como as estafilocócicas e botulínicas são relativamente comuns no Brasil. “Microrganismos como vírus e fungos também podem provocar contaminações severas, especialmente em alimentos mal manipulados ou mal armazenados”, alerta a especialista.
Enquanto as investigações continuam, autoridades pedem cautela na disseminação de informações não verificadas e reforçam o compromisso em esclarecer as circunstâncias do caso. O governo do Rio Grande do Sul ainda aguarda laudos oficiais para confirmar as suspeitas e determinar as responsabilidades.
Fonte: Caroline Daitx: médica especialista em medicina legal e perícia médica. Possui residência em Medicina Legal e Perícia Médica pela Universidade de São Paulo (USP). Atuou como médica concursada na polícia científica do Paraná e foi diretora científica da Associação dos Médicos Legistas do Paraná. Pós-graduada em gestão da qualidade e segurança do paciente. Atua como médica perita particular e promove cursos para médicos sobre medicina legal e perícia médica.
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