Prevenção ao HIV e saúde sexual são debatidas em encontro em Porto Alegre

  • 8 de setembro de 2025
  • Sol FM

Iniciativa contou com o apoio da Associação Médica do Rio Grande do Sul

A prevenção ao HIV e a integração do cuidado com a saúde sexual foram os temas centrais das discussões do evento “IST e PrEP: uma janela de oportunidades”, realizado nesta quarta-feira, dia 4 de setembro, no Teatro Moacyr Scliar da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA). O evento ganhou força após encontro envolvendo a Associação Médica do Rio Grande do Sul (AMRIGS) e membros de Sociedades de Especialidades Médicas, que se tornou o ponto de partida para a construção de novas frentes de conscientização e prevenção. A reunião incluiu a Sociedade Gaúcha de Infectologia (SGI), a Associação Gaúcha de Medicina de Família e Comunidade (AGMFC), a Sociedade Brasileira de Clínica Médica (SBCM), a Sociedade Brasileira de Urologia – Secção Rio Grande do Sul (SBU-RS), a Associação de Obstetrícia e Ginecologia do RS (SOGIRGS), a Associação Gaúcha de Coloproctologia (ColoproctoRS) e Sociedade Brasileira de Dermatologia – Secção RS (SBD-RS).

As Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), como sífilis, gonorreia e HIV, são quadros clínicos que podem ser disseminados por meio de relações sexuais sem proteção. O encontro destacou a importância da Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) como estratégia para ampliar o acesso à prevenção e integrar práticas de cuidado mais abrangentes em relação à saúde sexual. A técnica consiste no uso diário de medicamento por pessoas saudáveis em situação de vulnerabilidade, oferecendo uma camada adicional de proteção quando associada à falta do uso de preservativos e outras medidas preventivas.

A programação iniciou com a apresentação da Dra. Eliana Wendland, professora de Epidemiologia da UFCSPA e coordenadora do projeto ATITUDE, que trouxe um panorama do cenário do HIV no Brasil e ressaltou que há contrastes importantes entre diferentes regiões do território brasileiro.

“Os critérios internacionais mostram que quando o HIV apresenta prevalência menor que 1% no país, pode ser considerada uma epidemia concentrada em determinados grupos populacionais. No entanto, na Região Metropolitana de Porto Alegre, esse índice ultrapassa o ponto de corte e passa a ser considerado uma epidemia generalizada. Isso significa que a transmissão do vírus não está mais restrita a grupos específicos, como ocorreu no início da epidemia, mas já acontece de forma sustentada na população em geral”, explicou.

O Estudo ATITUDE foi uma pesquisa transversal de base populacional que buscou compreender de forma ampla os comportamentos, atitudes e práticas relacionados às ISTs. Realizado com 8.006 participantes distribuídos em 56 municípios, a análise incluiu também a realização de testagens para identificar a prevalência de HIV, sífilis e hepatites B e C. O resultado trouxe um panorama epidemiológico relevante, capaz de orientar políticas públicas de prevenção e o desenvolvimento de estratégias mais eficazes para o enfrentamento dessas doenças.

Na sequência, o público acompanhou a palestra “Abordagem multidisciplinar das ISTs: oportunidades para ampliação da PrEP e integração do cuidado nos diversos cenários clínicos”, conduzida pelo médico José Valdez Madruga. Os dados sobre o uso da PrEP no Brasil revelam crescimento no número de prescrições, mas também apontam para desafios em relação à continuidade do tratamento.

“Até 31 de julho de 2025, foram registradas cerca de 200 mil prescrições de PrEP no país. No entanto, a taxa de descontinuação ainda é alta: dos 199 mil usuários iniciais, apenas 132.518 permanecem em acompanhamento. O estado de São Paulo se destaca como líder nessa política de prevenção, concentrando mais de 40% das prescrições no Brasil”, declarou Dr. José Valdez.

Ao final, o médico alertou para importância de envolver outros especialistas na discussão do uso do PrEP como, por exemplo, urologistas, ginecologistas, proctologistas, dermatologistas, hebiatras, entre outros profissionais da saúde como enfermeiros, farmacêuticos e dentistas.

A pesquisadora do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas – Fundação Oswaldo Cruz, Brenda Hoagland, detalhou, em sua palestra intitulada “O Futuro da Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) no Brasil”, resultados do estudo PrEP Brasil, aplicado entre abril de 2014 e 2016. Segundo ela, o impacto das pesquisas científicas em nosso país foi determinante para a incorporação da PrEP oral como política pública de prevenção ao HIV.

“Os indicadores iniciais do estudo chamaram tanto a atenção, que o próprio Ministério da Saúde solicitou a inclusão de novos centros em diferentes regiões. O projeto começou em três serviços em São Paulo e um no Rio de Janeiro, na Fiocruz, e depois foi ampliado para Porto Alegre e Manaus. Além de levantar dados da população, a pesquisa trouxe um estudo de custo-efetividade, demonstrando que a implementação da PrEP para os grupos prioritários poderia reduzir significativamente a incidência de novos casos de HIV no país”, relatou Brenda.

A especialista finalizou detalhando o papel de cada ente na estruturação das políticas de prevenção. Ao Ministério da Saúde cabe definir diretrizes, adquirir medicamentos e insumos, além de capacitar estados e municípios — processo iniciado em 2017 com a publicação do Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT). A partir dessa etapa, o desafio passa a ser local: os municípios, com apoio técnico dos estados, precisam avançar na implementação da PrEP no Sistema Único de Saúde (SUS), o que inclui capacitar profissionais de suas unidades, identificar o público-alvo, realizar as prescrições e, sobretudo, garantir o registro adequado da dispensação no sistema de controle nacional.

Sobre a AMRIGS

A Associação Médica do Rio Grande do Sul é uma organização sem fins lucrativos voltada para a atualização do conhecimento técnico-científico e para a realização de debates científico-culturais relacionados à saúde, à Medicina e à vida profissional. Desde o momento de sua fundação em 1951, a AMRIGS integra a vida do médico em todas as etapas da profissão, tendo como objetivos:

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