Geologia, hidrografia e meteorologia são destaques no primeiro painel de evento sobre desastre no RS

  • 11 de dezembro de 2024
  • Sol FM

Sete palestrantes com diferentes formações realizaram apresentações que iniciaram as discussões científicas do seminário

Teve início nesta terça-feira, 3 de dezembro, no Salão de Atos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o seminário “A Ciência no Enfrentamento ao Desastre de 2024 no RS: da Emergência à Reconstrução”. A abertura foi realizada pela coordenadora do evento e diretora de Articulação com a Comunidade Científica da Secretaria para Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul, Fernanda Corezolla. O evento contou com a participação de pesquisadores, gestores e membros da sociedade civil organizada.

“Vivemos na sociedade do conhecimento mas, ao mesmo tempo, a contradição do mundo mergulhado nas fake news. Portanto, um desafio deste seminário é avançar no diálogo com respeito às diversidades étnicas e sociais, na observação das diferentes disciplinas e dimensões, no reconhecimento das conexões entre o conhecimento científico, o popular e o ancestral e na união das instituições públicas, privadas e societais”. Fernanda Corezolla, diretora de Articulação com a Comunidade Científica da Secretaria de Apoio à Reconstrução do RS.

As atividades iniciaram com uma apresentação cultural da dupla de rappers Afro Black e DKG, que realizaram uma batalha de rimas. Após, Fernanda Corezolla deu as boas vindas aos presentes e relembrou o desastre de maio de 2024 no Rio Grande do Sul, no qual milhares de pessoas foram afetadas em função das enchentes e deslizamentos. Ela destacou que o momento atual é de pensar a reconstrução visando a adaptação e a mitigação de danos.

“Esta fase exige conhecimento e compreensão social. Vivemos na sociedade do conhecimento mas, ao mesmo tempo, a contradição do mundo mergulhado nas fake news. Portanto, um desafio deste seminário é dar um passo adiante, é avançar no diálogo com respeito às diversidades étnicas e sociais, na observação das diferentes disciplinas e dimensões, no reconhecimento das conexões entre o conhecimento científico, o conhecimento popular e o conhecimento ancestral e na união das instituições públicas, privadas e societais”, destacou.

Compuseram a mesa de abertura a reitora da UFRGS, Marcia Barbosa, a secretária de Inovação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul, Simone Stulp, ao secretário executivo adjunto do Ministério da Educação (MEC), Gregório Durlo Grisa, a presidente do Fórum de Reitores das Universidades Públicas e Institutos Federais do Rio Grande do Sul (Foripes), Isabela Andrade, a representante do Consórcio das Universidades Comunitárias Gaúchas (Comung), Cintia Agostini, o gerente de Relações Institucionais da Universidade do Vale do Taquari (Univates), o vice-presidente da Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs) e prefeito de Mostardas, Moisés Batista Pedone de Souza e a secretária regional da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Márcia Margis.

COLETIVO – A representante do Comung, Cintia Agostini, lembrou que o desastre de maio foi a maior catástrofe ambiental brasileira deste século, tendo sido capaz de alterar todos os parâmetros de normalidade. “Lidar com o que aconteceu é o nosso grande desafio. A chave está na atuação conjunta de instituições de ensino, gestores públicos, setores privados e sociedade. Nenhum de nós sozinhos vai conseguir fazer qualquer coisa”, frisou.

ACADEMIA – A atuação das universidades públicas durante as enchentes foi o enfoque do discurso da presidente do Foripes, Isabela Andrade. Ela recordou ações como a abertura dos prédios  das universidades para servirem de abrigos, a realização de serviços, o apoio ao resgate de pessoas e animais, a coleta e distribuição de doações e as atividades de assistência aos desabrigados. “Quando passamos por momentos como a pandemia ou a crise climática, mais uma vez pensamos sobre a importância da produção do conhecimento, da pesquisa científica e de todo trabalho que é desenvolvido em nossas instituições de ensino”, ressaltou.

TRABALHO COORDENADO – Representado o Ministério da Educação, Gregório Grisa abordou a atuação do Governo Federal durante a crise climática. O secretário executivo adjunto destacou o grupo de trabalho coordenado pela Casa Civil, com a participação de 17 ministérios, que por quase 60 dias após o incidente se reuniu diariamente no Palácio do Planalto para articular junto às Forças Armadas a ação integrada no Rio Grande do Sul. Frisou a atuação do MEC, que liberou rapidamente R$ 50 milhões de forma emergencial para as universidades e institutos federais gaúchos, para auxiliar na reparação aos danos causados pelos temporais.

MUDANÇAS CLIMÁTICAS – Simone Stulp, secretária de Inovação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul, lembrou que a enchente não foi um o evento climático isolado, pois já há alguns anos os sinais de mudanças estão sendo apresentados em situações parecidas, como a enchente ocorrida em algumas regiões do estado em novembro de 2023. Simone falou sobre as ações que estão sendo realizadas pelo Governo do Rio Grande do Sul e sobre a importância do desenvolvimento de ações em colaboração com outras entidades.

DIÁLOGO – O vice-presidente da Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs) e prefeito de Mostardas, Moisés Batista Pedone de Souza, destacou a importância da ciência no enfrentamento de crises. Pediu para que as autoridades minimizem discussões políticas e mantenham a capacidade do diálogo para promover a busca de soluções.

CIÊNCIA – A atuação da  Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) durante a enchente foi pauta do discurso da Márcia Margis, secretária regional da entidade. Segundo ela, um grupo de trabalho foi formado assim que detectada a emergência climática, que se reuniu durante meses buscando recursos para a ciência do estado.

SOLUÇÕES – Encerrou a mesa de abertura a reitora da UFRGS Marcia Barbosa. Ela pediu que as universidades sejam ouvidas não apenas em situações de emergência, sendo um fórum para encaminhamento de soluções. Marcia reforçou a importância da criação de um centro de monitoramento no Rio Grande do Sul, para que se possa prever com precisão os eventos climáticos.

VULNERABILIDADE E RISCOS – O primeiro painel científico do evento teve a temática “Mudanças climáticas e análise multidimensional do desastre: vulnerabilidades e riscos” e foi composto por Rualdo Menegat (UFRGS), Marcelo Alonso (UFPEL), Fernando M. Fan (UFRGS/SBPC), Jean Paolo Minella (UFSM), Clódis de Oliveira Filho (UFRGS), Ernestino Guarino (Embrapa Clima Temperado) e Elisete Maria de Freitas (Univates). Nesta etapa, foram apresentados e discutidos dados sobre a geologia, a hidrografia, a meteorologia e a geografia do território gaúcho e os impactos provocados pelo desastre.

AQUECIMENTO GLOBAL – Rualdo Menegat, geólogo e professor titular do Instituto de Geociências da UFRGS, abordou os aspectos geomorfológicos, hidrográficos e ecossistêmicos do desastre climático. Considerou como causa do fenômeno o aquecimento global, que tem provocado diversas crises climáticas ao redor do mundo devido à alteração na temperatura média do planeta. Ele explicou que após 800 mm de chuva em apenas cinco dias, a disposição da bacia hidrográfica do rio Taquari e a geografia íngreme regional favoreceram as cheias, dificultando o escoamento da vazão através da Laguna dos Patos, provocando o transbordamento em diversos municípios. Como solução para minimizar esses impactos, Menegat propõe pensar a regeneração dos ecossistemas, desde as nascentes até as desembocaduras.

METEOROLOGIA– O segundo palestrante foi Marcelo Alonso, professor e diretor da Faculdade de Meteorologia da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL) e membro do Comitê Científico de Adaptação e Resiliência do Governo do Estado do Rio Grande do Sul (Plano Rio Grande). Sua palestra apresentou um diagnóstico meteorológico das chuvas de maio e a relação deste evento com os padrões de variabilidade do clima. Segundo ele, “um aumento de apenas dois graus na temperatura global pode provocar um incremento de 15% de nos eventos de precipitação (chuvas) no planeta. Imaginem quando essa variação chegar a 20%, 25%, o descontrole que teremos”. Alonso apresentou o fortalecimento do sistema de alertas hidrometeorológicos como necessidade urgente para a precaução dos eventos extremos no estado.

HIDROLOGIA – Os professores Fernando Fan, engenheiro ambiental da UFRGS e membro da SBPC, e Jean Minella, engenheiro agrônomo e coordenador do Grupo de Pesquisa em Erosão e Hidrologia de Superfície (GIPEHS) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), realizaram uma descrição hidrológica da cheia de 2024, falando sobre as falhas nos sistemas de proteção, os impactos da enchente e realizando uma comparação com eventos anteriores.

ENCOSTAS – Clódis de Oliveira Filho, professor de Geociências e Sensoriamento Remoto e chefe do Departamento de Geodésia da UFRGS, abordou os deslizamentos que acometeram as encostas sul do Planalto Meridional do Rio Grande do Sul. Falou sobre a situação de diversos municípios afetados, principalmente a cidade de Santa Tereza, uma das mais afetadas do estado. Como propostas, ele focou na necessidade de monitoramento constante e definição de estratégias de adaptação e convivência nas encostas com o risco geológico.

DIAGNÓSTICO – Por fim, Ernestino Guarino, pesquisador da Embrapa Clima Temperado e docente do Programa de Pós-graduação em Sistemas de Produção Agrícola Familiar da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), e Elisete Maria de Freitas, professora e pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia na Universidade do Vale do Taquari (Univates), falaram, respectivamente, sobre dados do diagnóstico realizado pela Embrapa no solo e na vegetação nativa do estado, e sobre um estudo de caso na Bacia Hidrográfica do Rio Taquari-Antas, no qual foram apresentados fatores que contribuíram para aumentar e diminuir os efeitos destrutivos da força da água na região. Elisete denunciou que os representantes do municípios do Vale do Taquari ainda não se reuniram para debater soluções para a região: “Como vamos ver ações para mudança se sequer estão sentando para conversar?”, reclamou. Também defendeu a educação ambiental e clamou para que não seja restrita apenas aos ambientes escolares. “É necessário atingir aqueles que não querem ouvir. Enquanto dizemos que as crianças são responsáveis pelo nosso futuro, nos colocamos de braços cruzados esperando que eles construam a mudança. Essa pegada que foi deixada até hoje é de todos nós. Temos que assumir essa responsabilidade e não passar para as crianças. Não temos mais este tempo”, encerrou.


GOV BR | Secretaria para Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul | Foto: Joca Moura

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