Nota Conjunta | AMRIGS e Sociedade Gaúcha de Infectologia sobre a dengue

  • 10 de fevereiro de 2025
  • Sol FM

Esclarecimentos e orientações

A dengue é uma doença arboviral transmitida principalmente aos humanos pela picada de mosquitos do gênero Aedes, especialmente por Aedes aegypti e, em alguns casos raros, por Aedes albopictus. O vírus possui quatro sorotipos: DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4. Todos eles podem causar infecção em humanos. A dengue continua sendo um dos principais desafios de saúde pública no Brasil. Com a chegada do período chuvoso e o aumento das temperaturas, o risco de surtos cresce, exigindo atenção redobrada da população e das autoridades sanitárias. A Associação Médica do Rio Grande do Sul (AMRIGS) e a Sociedade Gaúcha de Infectologia (SGI), através da médica infectologista, Viviane Buffon e do infectologista Fabrizio Motta, prestam orientações para população sobre o assunto.

Epidemiologia da dengue

A dengue é endêmica em várias regiões tropicais e subtropicais do mundo, incluindo o Brasil. Nos últimos anos, tem-se observado um aumento na incidência dos casos, com surtos sazonais que coincidem com o período de maior proliferação do mosquito vetor. O Rio Grande do Sul registrou mais de 206 mil casos confirmados no ano de 2024, representando o maior número de notificações pela doença no estado.

Transmissão

O mosquito Aedes aegypti, vetor principal, prolifera-se em áreas urbanas e periurbanas. A transmissão ocorre quando um mosquito infectado pica uma pessoa, disseminando o vírus. A dengue não é transmitida diretamente de pessoa para pessoa.

Sintomas

A dengue pode se manifestar de forma leve a grave. Os sintomas incluem:
• Febre alta súbita
• Dores de cabeça intensas
• Dores atrás dos olhos
• Fortes dores musculares e nas articulações
• Náuseas e vômitos
• Manchas vermelhas na pele

Nos casos graves, pode ocorrer a dengue hemorrágica, que se caracteriza por sangramentos, queda brusca da pressão arterial e choque. Diante de qualquer sintoma, é essencial procurar atendimento médico e não utilizar medicamentos à base de ácido acetilsalicílico (AAS) ou anti-inflamatórios, que podem agravar o quadro.

Diagnóstico

O diagnóstico da dengue inicia-se pela avaliação dos sintomas clínicos e histórico epidemiológico. Testes laboratoriais como ELISA, testes rápidos de detecção do antígeno viral NS1 e anticorpos IgM confirmam a infecção. O teste de RT-PCR (Reação em Cadeia da Polimerase em Tempo Real) é uma técnica molecular com alta sensibilidade e especificidade que desempenha um papel importante no diagnóstico precoce e na diferenciação dos quatro sorotipos do vírus da dengue. Ao detectar o material genético do vírus no sangue do paciente, o RT-PCR permite identificar a presença do vírus e determinar qual dos quatro sorotipos está causando a infecção. O tratamento deve ser iniciado logo após os resultados para evitar formas graves da doença.

Prevenção

A forma mais eficaz de evitar a dengue é impedir a proliferação do mosquito transmissor. Para isso, a população deve:

• Eliminar criadouros: esvaziar recipientes que acumulam água, como vasos de plantas, pneus, garrafas e caixas d’água sem tampa;
• Manter calhas e ralos limpos: evitando acúmulo de água parada;
• Utilizar telas e repelentes: protegendo-se contra picadas;
• Descarte correto de lixo: impedindo o acúmulo de materiais que possam reter água;
• Participar das ações comunitárias de controle vetorial: colaborando com os agentes de saúde e denunciando locais com possíveis criadouros.

Tecnologias recentes no controle da dengue

Existem atualmente duas vacinas disponíveis no Brasil contra a dengue: a Dengvaxia (Sanofi Pasteur), indicada para pessoas de 9 a 45 anos que já tiveram dengue previamente confirmada, sendo administrada em um esquema de três doses com intervalos de seis meses; e a Qdenga (Takeda), recomendada para pessoas entre 4 e 60 anos, independentemente de infecção prévia, aplicada em duas doses com intervalo de três meses.

Essas vacinas reduzem a gravidade da doença e a necessidade de hospitalização, contribuindo para o controle da dengue.

Mosquitos com Wolbachia: A tecnologia Wolbachia, que envolve a liberação de mosquitos Aedes aegypti infectados com a bactéria Wolbachia pipientis, tem se mostrado eficaz na redução da incidência de dengue. Estudos realizados em diferentes locais, incluindo o Brasil, demonstraram que a introdução de Wolbachia em populações de mosquitos pode reduzir significativamente a transmissão do vírus da dengue. Por exemplo, um estudo em Niterói, Brasil, mostrou uma redução de 69% na incidência de dengue após a liberação de mosquitos infectados com Wolbachia.[1] Outro estudo em Yogyakarta, Indonésia, relatou uma eficácia de 77% na redução da dengue.[2]

Drones e Inteligência Artificial: No Brasil, a aplicação de tecnologias como drones e armadilhas inteligentes para a liberação e monitoramento de mosquitos infectados com Wolbachia está em desenvolvimento. A utilização de veículos aéreos não tripulados (drones) para a liberação de mosquitos foi demonstrada como uma abordagem viável e eficaz, comparável aos métodos tradicionais de liberação em solo, sem a necessidade de mão de obra intensiva.[3] Essa tecnologia pode facilitar a implementação em larga escala, especialmente em áreas de difícil acesso ou onde a segurança do pessoal é uma preocupação.

Não há um tratamento específico para a dengue, sendo o manejo voltado para o alívio dos sintomas e a prevenção de complicações. Recomenda-se:

• Hidratação oral e, em casos graves, intravenosa;

• Uso de medicamentos antitérmicos e analgésicos, exceto os à base de ácido acetilsalicílico que podem aumentar o risco de sangramentos;

• Monitoramento constante dos sinais vitais e dos sintomas.

A Associação Médica do Rio Grande do Sul (AMRIGS) e a Sociedade Gaúcha de Infectologia ressaltam que combater a dengue requer esforço coletivo. Prevenção e controle são essenciais para reduzir a incidência e complicações da doença. A cooperação social é fundamental para eliminar os criadouros do mosquito e preservar a saúde pública.

Juntos, podemos prevenir a dengue e salvar vidas.

Referências:

1. Effectiveness of Wolbachia-Infected Mosquito Deployments in Reducing the Incidence of Dengue and Other Aedes-Borne Diseases in Niterói, Brazil: A Quasi-Experimental Study. Pinto SB, Riback TIS, Sylvestre G, et al. PLoS Neglected Tropical Diseases. 2021;15(7):e0009556. doi:10.1371/journal.pntd.0009556.

2. Efficacy of Wolbachia-Infected Mosquito Deployments for the Control of Dengue. Utarini A, Indriani C, Ahmad RA, et al. The New England Journal of Medicine. 2021;384(23):2177-2186. doi:10.1056/NEJMoa2030243.

3. Field Deployment of Wolbachia-Infected Aedes Aegypti Using Uncrewed Aerial Vehicle. Lin YH, Joubert DA, Kaeser S, et al. Science Robotics. 2024;9(92):eadk7913. doi:10.1126/scirobotics.adk7913.

Tratamento

M.B. Khan, Z.-S. Yang, C.-Y. Lin et al. Dengue Overview: An Updated Systemic Review. Journal of Infection and Public Health, 16 (2023): 1625–1642.

Retirado de https://ti.saude.rs.gov.br/dengue/painel_de_casos.html. Acesso em 02/02/2025.

Retirado de https://www.cdc.gov/dengue/hcp/index.html. Acesso em 02/02/2025.

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente. Departamento de Doenças Transmissíveis. Dengue : diagnóstico e manejo clínico : adulto e criança [recurso eletrônico] / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente, Departamento de Doenças Transmissíveis. – 6. ed. – Brasília : Ministério da Saúde, 2024.


Sobre a AMRIGS

A Associação Médica do Rio Grande do Sul é uma organização sem fins lucrativos voltada para a atualização do conhecimento técnico-científico e para a realização de debates científico-culturais relacionados à saúde, à Medicina e à vida profissional. Desde o momento de sua fundação em 1951, a AMRIGS integra a vida do médico em todas as etapas da profissão, tendo como objetivos:

  • Fomentar a ciência e a cultura médica;
  • Promover a defesa profissional;
  • Fortalecer o associativismo e a representatividade médica;
  • Ser influenciadora como entidade protagonista de ações em prol da saúde.

PlayPress | AMRIGS – Associação Médica do Rio Grande do Sul | Marcelo Roxo Matusiak

NÃO ESQUEÇA DE DEIXAR SEU COMENTÁRIO

É muito importante pra gente saber sua opinião

MAIS DA SOL FM

WP Radio
WP Radio
OFFLINE LIVE