A automedicação e a facilidade para a compra de medicamentos sem receita médica são uma preocupante realidade em nosso país.
Em países desenvolvidos da América do Norte e Europa, ao contrário, a maioria dos fármacos são necessária e obrigatoriamente vendidos com receita médica. Poucos são os medicamentos de acesso direto, acessíveis à compra sem receita. Ainda, para aumentar a segurança do processo de aquisição de medicamentos, todas as receitas médicas são aviadas pelo farmacêutico responsável. Se este percebe qualquer irregularidade ou discrepância, prontamente entra em contato com o médico prescritor, uma vez que é corresponsável por esta prescrição.
Nós, médicos, somos os profissionais mais bem preparados para medicar nossos pacientes. Treinados em escutar, examinar e, conjuntamente com exames complementares, realizar diagnósticos e propor tratamentos, farmacológicos ou não. Nosso preparo é decorrente de 6 longos anos de graduação, envolvendo disciplinas como semiologia, clinica médica, farmacologia clínica, epidemiologia clínica, patologia clínica, radiologia entre outras. Seguem-se à graduação, geralmente, entre 2 a 6 anos de residência médica, onde aprimoramos e colocamos em prática estes conhecimentos. Muitos, também, fazem mestrado, doutorado e pós-doutorado, especializando-se ainda mais. O tempo total de aprendizado e treinamento é muito longo, até que efetivamente estejamos prontos para oferecer atendimento pleno e de qualidade aos pacientes.
Entendemos as dificuldades de acesso adequado à saúde em nosso país. E esta desassistência resulta em um cenário arriscado de busca de soluções rápidas e aparentemente mais baratas por parte dos pacientes, mas que podem ter um preço muito elevado.
O resultado da automedicação sempre é perigoso. Grande quantidade de intoxicações medicamentosas e diversos eventos adversos associados ao uso incorreto de fármacos podem ocorrer. Infelizmente, em nosso país, o paciente se dirige às inúmeras farmácias que se multiplicam em cada esquina e busca resolução de seus sintomas com o balconista. O farmacêutico, que seria fundamental para aferir a receita médica e averiguar interações e outras peculiaridades da prescrição para prevenir problemas, nem sempre está disponível.
A automedicação e a falsa sensação de cura têm um efeito colateral grave: muitas doenças deixam de ser adequadamente diagnosticadas, toxicidade e efeitos adversos desnecessárias se acumulam e o sistema de saúde funciona inadequadamente. O trabalho dos médicos e dos outros profissionais sempre deve ser complementar, visando a promoção da saúde e maior segurança da população.
Para se obter os melhores resultados, a prescrição médica deve ser baseada na melhor evidência disponível, na experiência do médico e na preferência individual de cada paciente. Infelizmente, durante a pandemia, a automedicação se tornou uma prática ainda mais corriqueira e inapropriada, com todos os perigos inerentes já mencionados. Devemos estimular a união de todos profissionais de saúde, para que cada um, dentro do seu espectro de atuação, possa trabalhar em prol da saúde de nossa população. O paciente não pode, e não deve correr ainda mais riscos, seduzido pelo conforto de atalhos perigosos.
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